OMS já projeta uma geração livre do vírus da aids
Resultados apresentados na Malásia são animadores e vários pacientes já vivem livres do vírus da aids, mesmo sem os coquetéis de medicamentos. Mas pesquisadores ainda pedem tempo, antes de falar em cura
A
aids mata 1,8 milhão de pessoas por ano, e outras 34 milhões convivem
com o vírus HIV. A ciência corre em busca de uma cura para a doença e,
ao que parece, os resultados podem estar próximos.
Durante a conferência da Sociedade Internacional da Aids
(IAS), uma das principais sobre o tema, encerrada nesta quarta-feira em
Kuala Lumpur, Malásia, médicos americanos expuseram os casos de dois
pacientes contaminados pelo HIV que não apresentavam mais vestígios do
vírus após um transplante de medula para tratar leucemia.
Além disso, alguns bebês nascidos soropositivos, que
receberam medicamentos antirretrovirais nos primeiros dias de vida,
também não mostravam qualquer sinal do HIV, mesmo depois de 15 meses sem
medicação.
Novas diretrizes da OMS
Os resultados são animadores, e não se trata da única nova medida para frear o avanço da aids. A Organização Mundial de Saúde (OMS) apresentou uma reformulação nas recomendações de tratamento aos portadores do HIV. A entidade sugere o início precoce dos antirretrovirais, quando o sistema imunológico ainda está preservado, reduzindo assim a carga viral do sangue e o risco de contágio. A diretora geral da OMS, Margaret Chan, acredita que é hora de apertar ainda mais o cerco ao HIV, forçando a epidemia a um declínio irreversível.
Os resultados são animadores, e não se trata da única nova medida para frear o avanço da aids. A Organização Mundial de Saúde (OMS) apresentou uma reformulação nas recomendações de tratamento aos portadores do HIV. A entidade sugere o início precoce dos antirretrovirais, quando o sistema imunológico ainda está preservado, reduzindo assim a carga viral do sangue e o risco de contágio. A diretora geral da OMS, Margaret Chan, acredita que é hora de apertar ainda mais o cerco ao HIV, forçando a epidemia a um declínio irreversível.
Cerca de 10 milhões de pessoas no mundo recebem
regularmente o coquetel de remédios introduzido em 1996, que previne a
multiplicação do vírus. Até então, a recomendação era iniciar o
tratamento quando a contagem de linfócitos CD4 caísse para 350 células
por milímetro cúbico. Essa diretriz divulgada em 2010 é seguida por
cerca de 90% dos países.
A nova recomendação da OMS é que a ministração de
medicamentos comece antes, quando a contagem é de cerca de 500 CD4 por
milímetro cúbico e o sistema imunológico ainda está forte. Esta prática
já é adotada por alguns países, entre eles o Brasil, a Argentina e a
Argélia.
Outra nova recomendação da OMS é tratar com
antirretrovirais certos grupos de risco, independente de sua contagem de
CD4. Entre estes estão as crianças soropositivas com menos de cinco
anos, grávidas e lactantes contaminadas, assim como todos os portadores
do HIV que tenham relações com parceiros saudáveis.
A mudança eleva para 26 milhões o número de pessoas
elegíveis a tratamento, em todo o mundo. Na avaliação do diretor
executivo da OMS, Anthony Lake, este é um passo importante para "uma
geração livre de aids". Até 2025, essas medidas podem evitar 3 milhões
de mortes e 3,5 milhões de novos casos.
Mais perto da cura
Em outra frente de batalha contra a doença, os cientistas têm igualmente obtido resultados animadores. Embora a comunidade científica internacional evite falar em cura, multiplicam-se os casos em que, mesmo depois da suspensão do uso do coquetel, os pacientes deixaram de apresentar qualquer vestígio do HIV.
Em outra frente de batalha contra a doença, os cientistas têm igualmente obtido resultados animadores. Embora a comunidade científica internacional evite falar em cura, multiplicam-se os casos em que, mesmo depois da suspensão do uso do coquetel, os pacientes deixaram de apresentar qualquer vestígio do HIV.
O primeiro caso noticiado foi o do americano Timothy
Ray Brown, tratado por médicos alemães, que estaria vivendo sem o vírus
desde um transplante de células-tronco da medula em 2007. O doador era
resistente ao HIV, graças a uma rara mutação genética.
Em outro caso, apresentado na sétima edição da
conferência da IAS sobre patogênese, tratamento e prevenção da doença,
na capital malaia, um bebê soropositivo do Mississipi, EUA, recebeu
tratamento com antirretrovirais ainda nos primeiros dias de vida, e 15
meses após a interrupção dos remédios não apresentava qualquer sinal do
vírus.
A cautela dos médicos em usar a palavra "cura" procede
das peculiaridades do vírus, que pode se esconder em "reservatórios"
entre antigas células do sangue e tecidos, recrudescendo com a
interrupção do tratamento. A pediatra Deborah Persaud, que lidera equipe
encarregada do tratamento do "bebê de Mississipi", explica que a
terapia nos primeiros dias de vida impediu a formação dos
"reservatórios" e o consequente recrudescimento do vírus.
Mas a pesquisa com adultos também tem mostrado avanços.
Cientistas da Universidade de Harward acompanham dois pacientes que
receberam transplantes de medula e que não apresentam sinais detectáveis
do vírus, mesmo depois de interromper o tratamento por várias semanas.
Ao contrário do caso de Timothy Ray Brown, as células
transplantadas não apresentavam a mutação que dificulta a fixação do
vírus na parede da célula saudável, para então penetrá-la. Timothy
Henrich, um dos responsáveis pela pesquisa, considera os resultados
animadores, mas prefere ainda não falar em cura. "Isto, só o tempo
dirá", comentou.