segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Com mais de 3 mil infectados, ONU teme que cólera se espalhe por todo Haiti

Publicada em 25/10/2010 às 22h52m
O Globo

Na capital, a Cruz Vermelha tenta ajudar as vítimas da cólera / AFP
RIO - No momento em que um coordenador da ONU alerta para o risco de uma epidemia de cólera em todo o Haiti, podendo contaminar dezenas de milhares de pessoas, o governo do país inicia uma campanha de conscientização para tentar conter o surto da doença, que já matou 259 pessoas, e que nesta segunda-feira parece se alastrar em menor velocidade .
"Um surto nacional, com dezenas de milhares de casos, é uma possibilidade real, baseado em experiências prévias em outras partes do mundo. Devemos nos preparar para uma expansão considerável da doença", informou, em nota, Nigel Fisher, coordenador humanitário da ONU no Haiti.
Veja imagens do drama dos haitianos nos hospitais
Na capital, bem como no norte, onde começou o surto, o clima era de preparação para uma epidemia. Algumas ONGs montavam seus próprios centros de tratamento. Em Porto Príncipe, onde cinco casos já foram oficialmente identificados, cinco centros médicos estão prontos para receber os doentes, e desinfetantes e filtros eram distribuídos à população.
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Em Porto Príncipe ainda há mais de um milhão de pessoas vivendo em tendas improvisadas / AFP
As pessoas estão informadas, mas mudaram pouco o comportamento, bem menos do que se esperaria num caso desses. Elas ainda se dão as mãos, se beijam, o que está sendo desaconselhado - conta Rubem César Fernandes, diretor-executivo do Viva Rio, que está no Haiti.
O Itamaraty anunciou o envio ao país de US$ 2 milhões para a compra de remédios e equipamentos.
Toda essa movimentação era realizada para tentar impedir que o surto chegue aos campos de desabrigados do terremoto de janeiro perto da capital - onde centenas de milhares de pessoas vivem em condições extremamente precárias -, apesar da declaração da chanceler, Marie Rey, de que a doença "estava contida até segunda ordem". Para as organizações humanitárias, no entanto, a situação ainda é preocupante.
Em entrevista ao "Le Monde", a ONG médica Alima, afirma que uma epidemia de cólera na capital é inevitável.
"É claro que haverá uma epidemia em Porto Príncipe, dadas as condições de vida das pessoas, que estão amontoadas em campos", disse Guillaume Le Duc, responsável pela organização, que prevê a contaminação de 50 a 100 mil pessoas. Atualmente, o país tem 3.342 casos confirmados.
Segundo Rubem César, um dos maiores problemas agora é a disseminação da doença na região costeira, produtora de frutas e verduras vendidas no mercado popular da capital.
- Esse mercado pode ser uma fonte de transmissão. É muito preocupante, pois ele movimenta toda uma economia popular, e também recebe pessoas que vêm e voltam do interior - o que poderia contribuir para disseminar ainda mais a doença, diz Rubem César.

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